A vastidão dos oceanos e rios ainda esconde mistérios fascinantes, e recentemente, cientistas das universidades brasileiras Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em colaboração com o Instituto Francês IRD, desvendaram uma descoberta notável. Durante expedições do Projeto ABRACOS em 2015 e 2017, realizadas em Fernando de Noronha, foram identificadas cinco novas espécies de peixes de águas profundas, ampliando nosso conhecimento sobre a biodiversidade marinha.
A Descoberta
Essas espécies, incluindo Eustomias ophioglossa, Eustomias bertrandi, Eustomias lucenae, Eustomias antea, e Melanostomias dio, foram avistadas entre 200 e 400 metros de profundidade, revelando corpos alongados e tonalidades escuras e luminosas. A pesquisa, resultado de análises durante as expedições do Projeto ABRACOS, coletou cerca de nove mil exemplares de peixes, identificando mais de 200 espécies, sendo cinco delas totalmente novas para a ciência brasileira.
Barbara Vilarins, pesquisadora da UFRJ, expressou a gratificação de participar de um projeto tão inovador, destacando a importância dessas descobertas para diversas áreas temáticas.
Apesar da empolgação gerada por essa nova adição à biodiversidade, o estudo alerta para as ameaças que essas espécies enfrentam, especialmente devido à pesca em águas profundas, uma prática que coloca em risco a sobrevivência desses peixes recém-descobertos.
O Paradoxo da Pesca: Uma Reflexão a partir de Fernando de Noronha:
Embora as descobertas científicas sobre as novas espécies de peixes tragam luz à riqueza marinha de Fernando de Noronha, o cenário futuro dos peixes, em geral, é preocupante. O documentário da Netflix, “Seaspiracy”, lançou uma perspectiva sombria, afirmando que todos os peixes dos oceanos desaparecerão até 2048 devido à pesca indiscriminada.
A Controvérsia do Documentário
Entretanto, essa afirmação polêmica foi contestada por especialistas em ciências pesqueiras, ciências marinhas e ecologia. De acordo com a análise de oito especialistas, sete consideram “extremamente improvável” que tal cenário catastrófico ocorra.
O documentário, que levanta preocupações válidas sobre a pesca industrial, baseia-se em uma afirmação feita em 2006 por Boris Worm e seus colegas. Contudo, críticos, como Michael Melnychuk da Universidade de Washington, questionam a precisão da previsão para 2048, destacando que as definições de ‘colapso’ utilizadas no estudo são baseadas em dados de captura que podem não refletir a abundância real das populações de peixes.
A descoberta das novas espécies em Fernando de Noronha é um marco significativo na pesquisa oceanográfica brasileira, revelando a riqueza desconhecida que habita as profundezas do nosso oceano. No entanto, a sombra da pesca indiscriminada paira sobre essas criaturas recém-descobertas e sobre a vida marinha como um todo. O desafio para o futuro reside em equilibrar a exploração científica e a preservação, garantindo que as próximas gerações também possam se maravilhar com as maravilhas dos mares.

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